Sobre o Curso

Esse curso propõe semear a orelha para estimular a escrita de caráter pessoal, criada em vários formatos: do papel ao gravador, do texto `a voz. Os índios Hupda, que vivem no Alto Rio Negro, na fronteira entre o Brasil e a Colômbia, dizem que ouvir histórias e cantos faz crescer a semente do pensamento… Em um total de cinco encontros, nós vamos fazer essa semente brotar e se expandir em uma escrita pessoal e uma escuta coletiva.

“A gente escreve o que ouve” (Oswald de Andrade); “eu me apresento como uma escutadora” (Eliane Brum); “eu trazia sempre os ouvidos atentos” (G.Rosa); “só a minha parte auricular sentia” (Clarice Lispector)

“A gente escreve o que ouve” (Oswald de Andrade); “eu me apresento como uma escutadora” (Eliane Brum); “eu trazia sempre os ouvidos atentos” (G.Rosa); “só a minha parte auricular sentia” (Clarice Lispector)

CURSO ENCERRADO

A partir do momento em que aprendemos a falar, esquecemos quão importante é o ouvir e o escutar. Por que? Pensamos na transmissão do saber pela fala e pela escrita, mas e o saber pela escuta? Assim, o que seria uma pedagogia do ouvir?

Nas cinco primeiras aulas, faremos vários pequenos exercícios “escrito-auditivos”, que tem o objetivo de soltar as amarras do escrever. Apresentaremos algumas texturas sonoras, e faremos a leitura em voz alta de trechos de outros escritores e artistas, entre outras práticas e exemplos. Na sexta e última aula, faremos um sarau coletivo, aberto ao público. As produções de textos dos participantes serão depois disponibilizadas no Podcast Escritas de Ouvido, que criaremos.

A frase “escrevo de ouvido” aparece no romance A hora da estrela, de Clarice Lispector, que tem como protagonista uma pobre nordestina perdida na cidade grande, Macabéa: “ela falava, sim, mas era extremamente muda”. Pensar a escuta é pensar junto com aqueles que não tem direito de fala e de escrita reconhecidos no poder dominante, e que, mesmo falando (ou até gritando), não são ouvidos….

Para pensar a escuta , é preciso aprender com poetas, escritores, artistas, cantadores e mestres da cultura oral. Vejam o que disse o compositor e sambista carioca Bezerra da Silva: “Como o morro não tem direito à defesa, só tem direito de ouvir…, como vai falar? “Então, o que é que faz o autor do morro? Ele diz cantando aquilo que ele queria dizer falando..!”

Nós vamos exercitar nosso “direito de ouvir” a nossa fala e a nossa escrita. Alguns dos tópicos a serem debatidos incluem: A Escuta, substantivo feminino; Escuta-dores: a escrita como cura; A palavra aural-visual; O Livro Livre; Experiências de sinestesia; Letras de música; A escuta da escrevivência.

Formato

Modalidade: Online
Vagas: 50
Aulas: Toda segunda-feira, das 19h30 às 21h30
Início: 05/07/2021
Término: 09/08/2021
Duração: 6 encontros

Público-alvo

Para pessoas que gostam de escrever, mas tem medo, ou que gostam de escrever, e querem escrever mais. Para quem gosta de ouvir poemas, contos, canções, cantorias, crônicas, entrevistas, estórias, dissertações, histórias de vida. Estudantes, professores, escritores, jornalistas, leitores, compositores, médicas, enfermeiras, poetas…

Pré-requisito

Caderno e caneta. Terem ouvidos atentos, e estarem dispostos a se escutarem e a ouvirem os outros e o mundo, por escrito e oralmente.

Professores

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Marília Librandi

Escritora, pesquisadora e professora. Afiliada ao Brazil Lab, da Universidade de Princeton, e colaboradora do núcleo de pesquisa e de pós graduação, Diversitas, da Universidade de São Paulo. Lecionou na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (2004-2008), antes de se mudar para os Estados Unidos, onde ensinou literatura e cultura brasileiras na Universidade de Stanford (2009-2018), e na Universidade de Princeton (2018-2021). Autora de Escrever de ouvido. Clarice Lispector e os romances da escuta (Relicário Edições, 2020), e de Maranhão-Manhattan. Ensaios de Literatura Brasileira (7 Letras 2009). Coordena o site e o podcast “Clarice 100 Ears” (https://clarice.princeton.edu/). Foi co-roteirista, com Beatriz Azevedo e Moreno Veloso, do show “Agora Clarice/ Now Clarice”. É curadora do programa 33’ Brazil Lab Review, disponível no Youtube.

Sérgio Bairon

Livre-docente em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicação e Artes – USP. Doutor em Ciências pela Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas – USP. Entre 1993 e 2007 foi professor e orientador de doutorado na pós-graduação em Comunicação e Semiótica da PUC/SP. Atualmente é professor na ECA-USP e no programa de pós-graduação em Humanidades, Direitos e Outras Legitimidades – FFLCH – USP, e coordenador do Diversitas – FFLCH – USP. Autor dos livros Multimídia (ed. Global), Interdisciplinaridade – hipermídia, educação e história da cultura (ed. Futura), Hipermídia, Psicanálise e História da Cultura (Ed. EDUCS), Texturas sonoras: áudio na hipermídia (ed. Hacker), Antropologia Visual e Hipermedia (Ed. Afrontamento – PT), dentre outros.