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Unquillo, província de Córdoba, 21 de novembro de 2014. Uma marcha. Centenas de pessoas da Argentina e convidados de outros países: palhaços, malabaristas, artistas de teatro, músicos, dançarinos, agentes culturais, midialivristas (ativistas pela mídia livre). Encontro da cultura viva em mais um país. Pontos de cultura da Argentina, espalhados da Puna à Patagônia, do Chaco ao Pampa. A bandeira: Lei Cultura Viva Comunitária, assegurando orçamento mínimo nacional de 0,1% para grupos culturais comunitários. Uma campanha continental, que se espalha por toda a América Latina.
Cultura: o cultivo da vida, o cultivo das pessoas, grupos e sociedades, a busca por sentidos e significados. A partir da etimologia da palavra “cultura” (do vebo latim colere, “cultivar”), a melhor aproximação comparativa deve ser entre cultura e agricultura. Cultura é justamente colocar as mãos e os pés na terra, preparar a terra, semear, acompanhar o crescimento das plantas, proteger a plantação, realizar a colheita (preferencialmente com trabalho coletivo e cantando enquanto se trabalha), fazer festa, celebrar. E, após a colheita, separar as melhores sementes, para depois fazer tudo de novo, sucessivamente – mais festa e celebrações, agradecendo e pedindo permissão à Mãe Terra, que nos dá alimento.
Transições e superações entre sistemas e regimes não acontecem por ato de vontade, em vez disso, resultam de processos lentos, de metamorfose, em que o novo vai sendo gestado na barriga do velho. Na maioria das vezes, sem que esse velho perceba. De repente, quando o velho regime se dá conta, da pupa surge uma colorida borboleta, antes lagarta. Essa transformação é fruto de uma fronteira misteriosa, entre o fluxo suave e a turbulência. Seria uma “quase intransitividade”.